terça-feira, 23 de junho de 2009

Apenas mais uma menina tímida

A porta da casa estava aberta, mas não adiantava
Ninguém entraria ninguém conseguia se aproximar.
Era muito alto pra chegar e fundo demais pra se atravessar.
Era como se fosse uma ilha...
Um barco no meio do mar
O coração daquela menina.

Ela olhava para trás em vão
Só barulhos de maresia, chuvas e tempestades
O seu teto já não era tão resistente como antes...
Respingavam gotas e já havia possas lá dentro...
Em outros cantos da sua enorme mansão marítima
Havia morros de areia
Ninguém sabe ao certo porque e como apareceram ali
Era como se a superfície estivesse próxima
Mas ela não via nada...

Até mesmo nos morros ela tropeçava sem perceber
E quando os via ficava um tempo pensando, tentando compreender...
Ela não sabia por que estava ali, não lembrava mais.

Tinha muito medo de se afogar quando era criança
Sempre preferia brincar na areia da borda, nunca foi além.
Aquela sim era uma menina tímida...
Ela cresceu tão rápido que mal se lembrava da semana passada
Só enxergava a mulher adulta naufragada no meio do mar.


Mas o mar era dela e ela não percebia
O mar era ela, e ela não sabia.
A casa, a areia e as possas
A porta aberta pra lugar nenhum...


Certo dia choveu demais
A casa era grande, mas não maior que a tempestade
A areia que aumentava a cada dia ia tirando os espaços
Tanta areia que criou insetos se alastrou o cupim
A menina continuava ali
A porta aberta e não (há) via saída,
Ela não via a vida com seus olhos de maresia.

A tempestade levou o teto e quase tudo que restava...
O cupim corroia cada vez mais às bases daquilo que ela chamava de casa.
Ela chorava e fingia fechar as janelas já caídas
Ela sorria fazendo sua última cama de areia movediça.

Um comentário:

Ana Yasha disse...

A gente vai seguindo, remando contra a maré, e quando o mar ta agitado nós lançamos âncora e esperamos ele acalmar. Contrariamos as previsões pessimistas e seguimos renascendo todas as manhãs. Mas um dia é preciso abandonar o barco para nadar em céu aberto, estar disponível para olhar as estrelas, ver o brilho refletido nos olhos e caminhar num único sentido, para assim nos ver no horizonte, com 100 anos de estrada...

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